Os gatos se despedem antes de morrer?
Às vezes parece que os gatos nos dão uma última sessão de carinho antes de nos deixar, o que é conhecido como “lucidez terminal”. Isso é algo consciente? Vamos descobrir!
Possivelmente, a pior parte de conviver com um felino é saber que ele viverá menos anos que nós. É normal nos perguntarmos se os gatos se despedem antes de morrer, já que os humanos têm consciência do significado da morte e aliviamos esse luto com rituais de despedida.
Porém, esse processo psicológico é o mesmo para os gatos? O que os felinos sabem sobre a cessação da sua própria existência? Se a resposta for sim, eles valorizam o momento de se despedir de seus entes queridos? Isso é o que vamos descobrir, então não deixe de ler.
Gatos e a consciência da morte
Um dos grandes debates sobre a cognição animal é a consciência sobre a morte. Sabe-se que os elefantes choram os seus mortos e que algumas aves, como os corvos, convocam um “funeral” onde os seus pares vêm observar o membro do grupo que acaba de morrer.
Estudar isso é a tanatologia comparada, ramo da etologia que busca diferenças e coincidências entre humanos e outros animais na concepção da morte. Até agora, foi demonstrada em muitas espécies uma certa consciência do fim da vidaconcedida por sinais, como o cheiro de cadaverina e putrescina ou a detecção de imobilidade.
No entanto, não existem dados concretos que demonstrem que os gatos domésticos têm consciência da própria morte. Quando um espécime se sente fraco e doente, pode não ter forças para lutar pela sua vida, dando ao seu cuidador a impressão de que desistiu.
Evidências de estudos observacionais determinam que os animais são capazes de reconhecer a morte em outros indivíduos. Contudo, ainda é necessário estabelecer uma ligação entre isso e reconhecer o próprio fim da vida.
Os gatos se despedem antes de morrer?
Não há dúvida de que o comportamento de um animal muda quando sua morte se aproxima. Alguns procuram um local seguro e tranquilo para aliviar o seu desconforto, outros procuram os seus cuidadores em busca de conforto. Além disso, certas mudanças na aparência e no comportamento sugerem que o fim da sua vida pode estar próximo:
- O animal se isola.
- Não come nem bebe.
- Não defeca nem urina.
- Dorme mais do que o normal.
- Seus sinais vitais e temperatura corporal mudam.
- Mostra gestos de dor, como posição ortopneica ou tensão muscular.
- A aparência de sua pelagem muda, perdendo brilho e ficando desalinhada, pois o gato não se arruma.
Porém, se assumirmos que os gatos se despedem antes de morrer, estaríamos aceitando a ideia de que eles têm uma consciência clara de sua própria morte e realizam um ritual a respeito. Como não há evidências sobre esse processo mental específico, os especialistas pedem cautela ao atribuir habilidades cognitivas humanas a outras espécies.
Sinais de que os gatos se despedem antes de morrer: testemunhos individuais
Apesar de toda essa cautela científica a este respeito, existem muitos testemunhos individuais que afirmam que os gatos recuperam alguma força antes da morte e procuram os seus humanos para uma última sessão de mimos. Esse fenômeno, conhecido como “lucidez terminal”, também foi documentado em humanos e, para algumas pessoas, é um facilitador do luto, permitindo que ambas as partes se despeçam.
Portanto, do ponto de vista da psicologia do luto, não é condenado o pensamento de que um gato se despede de seu humano, caso essa lucidez ocorra no final da vida. Com essa interação, o animal encontra conforto para sua dor e o ser humano consegue criar uma memória positiva que o ajudará a enfrentar sua perda.
Agora, sem ter conhecimento sobre a lucidez terminal, essa melhora repentina pode gerar falsas esperanças de recuperação que posteriormente resultam no agravamento do trauma. É importante informar-se sobre esse fenômeno e administrá-lo como uma despedida saudável.
Luto e bem-estar antes da morte
Enfrentar a morte de um ente querido é sempre complicado. Com os animais não humanos, há também um acréscimo: somos nós os cuidadores que decidimos acabar com a vida com a eutanásia.
Essa decisão, que vai sempre contra a vontade de ficar com o gato, é uma das mais dolorosas que existem. É aí que entram em cena os rituais de despedida, às vezes facilitados pela lucidez terminal.
Porém, e para finalizar, é necessário ressaltar que a intenção de libertar o gato de sua dor deve prevalecer sempre quando ele não tiver mais remédio. Despedir-se e sentir uma correspondência do felino é um momento chave para ambos os seres, mas não deve se prolongar além do necessário.
Lembre-se do que é: uma despedida. O melhor é dar um fim para que seu amigo peludo se torne uma lembrança maravilhosa e não um luto doloroso.
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